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De Repente, Descobri Você § 5 – Para os Dois

Notas Iniciais:

Esta história se passa durante a primeira fase, mais ou menos enquanto elas tentavam reunir os cristais arco-íris. Sailor Moon não pertence a mim, mas eu também não estou ganhando nada com esta produção, não me processem!

Prontos para o penúltimo capítulo?


Olho Azul Apresenta:
De Repente,
Descobri Você


Capítulo 5 – Para os Dois

Nós conversamos em um sonho
E eu me preocupo um pouco, só um pouco, com como continuaria.
Digo, se isso for um sonho real
Então, com certeza, com toda certeza, virá.
Com certeza, você virá.

(Masayume - Aa!)

  Naquela noite, eu custara a dormir, deitada em minha cama ainda consciente das queimaduras que estavam pelo meu corpo.
  Eu nunca preocupava minha mãe quando me machucava muito. Se fosse tão exposto assim, havia vezes em que eu até ficava na casa de alguma das meninas durante a noite, já que no dia seguinte eu normalmente estaria quase curada. Por isso, foi um susto para minha mãe me ver naquele estado. Não precisei mentir muito, disse que havia me envolvido no ataque que ocorrera no centro, àquela hora tudo já estava na televisão. Ela me perguntou por que não fui ao hospital e respondi que não queria ir. Normal, alguém fazer de tudo para evitar agulhadas, certo?

  Mas talvez eu devesse ter ido. Receber algum remédio para aquela dor e, de quebra me dopar com ele.

  Fiquei olhando por horas para o teto, apenas cochilando de vez em quando, ou assim achava que estava fazendo. Não tinha certeza. Lua deitou-se no meu estômago, como se tentando me passar alguma força, mas logo ela dormiu, deixando-me só no limbo da insônia.

  Eu não tinha certeza de quando começou. Quando meus pensamentos haviam virado um filme na frente de meus olhos. Mas, quando dei por mim, meus olhos estavam fixos no bolo que Darien havia pedido no dia em que nos encontráramos.

  Ele me falava alguma coisa, enquanto tomava sua xícara de café preto, bem amargo, e eu só olhava aquele bolo. Nossa conversa não era importante, de qualquer forma. Nós só a estávamos alargando para termos uma desculpa de passarmos tempo juntos. Sempre fora assim. Darien sem coragem de dizer o que sentia por mim e eu sem coragem de dizer que correspondia. Afinal, como corresponder a algo que você nem sabia que existia?

  Sim, naquele sonho, diferente do anterior em que eu ficava em dúvida e apenas aceitaria tentar se ele propusesse algo, a verdade era que eu gostava muito do Darien desde que percebera os sentimentos dele com relação a mim. E me sentia sem graça por causa disso. Como gostar de alguém só porque aquela pessoa gostava de você? Como dizer isso àquela pessoa sem parecer estranha?

  Mas era como se eu ouvisse os pensamentos dele naquele sonho. Enquanto via Darien pegar o pequeno garfo relutantemente e pô-lo de maneira delicada para cortar um pedacinho do bolo, eu sabia o passava por sua cabeça. Que ele não gostava muito de doce, que só pedira o bolo para me acompanhar, já que sabia que eu gostava muito. E que, no fundo, ele ainda tinha esperanças de oferecer passá-lo para mim, para que eu ficasse feliz com aquele gesto.

  E eu sorria no sonho como uma tola enquanto olhava o pequeno pedaço em cima do pequeno garfo indo até a boca de Darien, que também estava pequena tentando ao máximo recusar aquela bomba de açúcar. Sorria tanto com a cena que minhas bochechas já até estavam doloridas.

  Já com meu bolo e chocolate quente terminados, pus os cotovelos na mesa, entrelacei os dedos e apoiei ali minha cabeça. Queria deixar bem claro para Darien que eu o estava olhando. Queria que ele percebesse que estava tudo bem se declarar para mim. Ou, ao menos, me dar o resto do bolo que ele não pretendera comer desde o início.

- O que foi? – perguntou ele sem jeito, olhando para si mesmo. – Caiu alguma coisa em mim?
- Não só estava imaginando que o bolo parecia bom, - menti, com um sorriso.
- Ah. – Ele olhou para o bolo, enquanto pensava no desperdício que era ele ter que comer aquilo como eu parecia querê-lo muito mais.
- E está bom?
- Ah, tá sim... – Ele voltou de novo os olhos para o bolo. Agora, ele o vira como se fosse seu inimigo. Darien pegou o garfo e partiu outro pedaço, levantando-o lentamente na vertical: - Quer experimentar?

  Eu senti minhas bochechas ficarem vermelhas. Era tão óbvio o quanto eu gostava dele, como Darien não percebia e dizia logo? Mas aquele clima também estava bom. Não importavam as palavras... Darien, naquele momento, estava ali comigo.

  Fiz sinal positivo com a cabeça.

  Darien me sorriu e pôs o garfo perto dos meus lábios, fazendo um gesto que eu experimentasse. Lentamente, saboreando o ar ao redor de sua mão que segurava o garfo, abri minha boca e puxei o bolo com os lábios. Morria de medo que ele caísse em mim durante aquele movimento, considerando que eu era uma desastrada de primeira. Mas logo eu já podia sentir o doce em minha língua.

  Darien afastou o garfo, descansando-o no prato de bolo:

- E aí? – Sua bochecha tinha um rubro bem leve, enquanto perguntava. Ele estava se sentindo envergonhado daquilo que acabara de fazer, mas não queria admitir o quão inapropriado fora oferecer-me do próprio garfo.
- Muito bom mesmo! – disse, sem mentir. Era o melhor bolo que já comera na vida. Afinal, aquele acabara de ser um beijo indireto, né?

  Talvez, muito em breve, eu poderia saber enfim como seria o beijo de verdade, bem nos lábios de Darien. Teria gosto de chocolate? Café? Minhas bochechas deviam estar roxas de tão vermelhas que as deixara. E elas doíam... porque eu não conseguia parar de sorrir. Eu estava simplesmente muito...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Minha mãe me acordou para ir para a escola. Que eu já estava quase atrasada de tanto que ela me chamara.

  Suspirei em minha cama. Desde o início eu já sabia que não passava de um sonho. Ainda assim, queria continuar lá, sem pensar na realidade. Não havia nenhum tipo de romance que ligasse Darien e eu. Nem mesmo um platônico ou não correspondido. Todos aqueles sentimentos eram exclusivos do mundo dos sonhos.

  Aquela tristeza que eu sentia agora era apenas o tédio de ter que enfrentar mais um dia de aula, junto a algum vestígio de toda aquela alegria que eu estava sentindo no meu encontro de sonhos junto com Darien. Logo que eu lavasse bem o rosto, tudo aquilo teria que sumir.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Cheguei ao salão de jogos. Hoje Andrew estava ali e me recebeu com um sorriso largo como sempre:

- Chegou cedo hoje. E a aula? – perguntou.
- Eu não estava me sentindo bem, então a enfermeira me liberou logo depois do almoço.
- A ideia não era você ir pra casa, então? – A preocupação em seu tom de voz estava evidente. – Ainda mais com esse machucado aí na perna.

  Olhei para o que restava da queimadura de ontem, apenas uma mancha acinzentada disforme. Ri-me um pouco:

- Não estou tão mal assim. – E estiquei uma nota. – Nada que jogar até de noite não faça passar!
- Se esse for seu remédio, vai que será por minha conta. – Ele piscou com um olho. – Jogue o que quiser! E quando quiser conversar, estarei aqui.
- Andrew... – E o abracei por cima do balcão.
- É pra isso que irmãos mais velhos servem, né?

  Assenti com ênfase e saí correndo até meu jogo favorito: o mais novo da Sailor-V.

  Enquanto apertava os botões para dar golpes nos monstros que surgissem, senti meus olhos se encherem de lágrima. Droga, o que estava acontecendo comigo? Eu não gostava do Darien. Eu mal o suportava até umas semanas antes. Essa coisa toda só começara porque a Rei o chamara para namorar.

  Bastava. Não fazia qualquer sentido chorar. Tudo não passara de um sonho e um dia eu também encontraria um cara tão legal quanto o Darien, que também gostaria de mim. Ainda que meus sentimentos por ele fossem verdadeiros de alguma forma, Darien era o namorado da minha amiga. De jeito nenhum que isso mudaria.

  Voltei a matar monstros. Perdi mais vezes e mais rápido que de costume, mas continuei a insistir.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Era mais um dia de reunião na casa da Rei, como de costume. Fazia já umas duas semanas desde que ela voltara e aos poucos eu conseguira pôr minha mente em ordem. Talvez, houvesse sido apenas o choque. Uma parte de mim ainda apontava que os sonhos com Darien vieram antes daquele namoro, mas fora só depois que eu pirara, certo?

  Olhei para minhas unhas, já era hora de cortá-las. E depois dali, eu ainda queria ir comprar um creme novo para o rosto que todos estavam usando. O inverno estava especialmente seco naquele ano, então, faria bem usar alguma coisa a mais. Não era bem um creme, e sim uma máscara e a pele ficava uma maravilha depois de usá-la. O melhor, o pacotinho era menos de cem ienes! Nem na loja de cem ienes vendiam algo tão barato!

- Serena, o que acha? – A voz da Rei entrou em meus ouvidos como se fosse o rufar de algum tambor, ou o toque de algum relógio.
- Do quê? – perguntei distraída, meus olhos ainda estavam nas minhas unhas levemente maiores que de costume.
- De irmos àquele depósito investigar melhor, - explicou Lita.
- Lá não é super longe? E a gente já não ficou horas rodando aquilo ali...? Até o Darien andou por ali. Não vejo pra que perder tempo de novo. – Cruzei as pernas na cama da Rei, puxando um de seus mangas da pilha de recentes.
- Ei, eu ainda nem li esse! – Rei puxou de mim o livro.
- Mas você não ia ler agora! – Eu puxei de volta e assim continuamos enquanto falávamos.
- Fui eu que comprei, vá comprar o seu.
- Você não tem namorado agora? Vá passar tempo com ele e deixe os mangas comigo.
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra!
- Meninas, calma... – Lita pôs a mão no meio de nós. – Estamos no meio de uma reunião importante, né?

  Rei aproveitou a distração para puxar definitivamente o livro de mim e escondê-lo.

- Isso não é justo, por que você sempre quer tudo!? – gritei e saí do quarto batendo a porta.

  Poxa, era só um manga, ela não precisava ter ficado tão possessiva. Eu quase sempre me lembrava de devolver o que pegasse e quase sempre devolvia em boas condições. Menina mimada...

  Cruzei os braços e fui para meu novo ponto favorito no templo.

  Não estava esperando nenhuma repetição do dia anterior, quando Darien viera e marcou uma espécie de encontro comigo. Nem tínhamos mais nada a nos falarmos. Ficara subentendido que um respeitaria o segredo do outro e pronto. Desde aquele dia apenas nos cumprimentáramos, afinal, eu sempre o via pela rua agarrado à Rei. Parecia até que um deles estava quase caindo numa areia movediça de tanto que um braço segurava o outro... Desnecessário.

  Agora, em que estava pensando antes, devia ser importante... Ah, minhas unhas. Precisava cortá-las assim que chegasse em casa. E no caminho iria comprar uma daquelas máscaras.

  Então, percebi que as meninas haviam encerrado a reunião e se despediam da Rei para ir embora. Eu faria um pouco mais de tempo, olhando a paisagem, para não acabarmos nos encontrando pelo caminho.

  É... Eu andava bem distante de todas desde que descobrira a identidade de Tuxedo Mask. Mas... era como se eu não pertencesse mais... Os problemas na minha cabeça haviam se tornado muito diferentes daqueles que importavam às meninas.

  Enquanto eu pensava assim, percebi que Nicolas se aproximara da Rei, que ainda acenava para se despedir da Ami e da Lita. Percebi como Rei mudara de repente, parecendo mais feliz que de costume. E ria um pouco mais que o necessário para o que Nicolas estava lhe dizendo. Não que eu conseguisse ouvir direito de onde eu estava o que ele estava falando com aquela voz rouca, mas as respostas da Rei estavam tão agudas que chegavam perfeitamente a mim, como se gritadas para dentro do meu ouvido.

  Aquilo... Comecei a segurar o riso, tampando com minha mão a boca. Meu corpo tremeu um pouco de euforia. O que eu via era uma imagem bastante óbvia. Eu sempre desconfiara de algo, mas ultimamente andara tão entretida com descobrir meus sentimentos que não ligara muito para o que ocorria ao meu redor.

  Mas aquilo era evidente demais!

  Continuei tampando a boca, abafando minhas gargalhadas até os dois seguirem caminhos diferentes e eu poder dar o fora do templo. Assim que desci a metade das escadas, deixei-me rir alto.

  Era incrível demais! Rei havia se apaixonado por Nicolas!

  A forma como sua bochecha estava vermelha. Como seu assunto não tinha muito nexo. Como seu riso ficava nervoso! Era o amor! Ah, o amor!

  Ri mais algumas vezes, mesmo depois de chegar de volta à rua principal. E dali comecei a imaginar qual seria o valor da minha descoberta. E como a Serena cupido poderia intervir para ajudar os dois pombinhos, era claro. Eu tinha que intervir! Do jeito que os dois eram bobos, o amor deles poderia continuar platônico para todo o sempre. Rei se casaria com alguém, Nicolas também ia acabar achando alguma esposa, e pronto. Final tristíssimo.

  Espera... Rei se casaria com alguém? Tampei de novo a boca, desta vez para segurar um grito de espanto de sair pelos ares.

  Rei *estava* namorando alguém. Darien! Mas eu não tinha dúvidas de que ela gostava do Nicolas. Então, qual era a dela? Ela nos dissera que quando voltou do sequestro havia percebido o quão intenso era seu sentimento por Darien... Ela dissera que gostava dele, né?

  Rei mentira por quê? Talvez... ela realmente gostasse dos dois e havia escolhido logo o mais difícil, já que o Nicolas vivia em seu templo, já estava sempre ali. O que ela perderia mais fácil era o Darien mesmo. Ai, não fazia muito sentido. Não era possível gostar de duas pessoas ao mesmo tempo. Um daqueles sentimentos devia ser falso.

  Pus-me a pensar no que acabara de ver. Na forma como Rei parecia estranhamente animada. E lembrei-me de todas as vezes que vira Darien e ela juntos como namorados. Juntei as duas imagens. Comparei as duas formas de Rei se comportar com cada um deles.

  E não sabia dizer se gostava ou odiava a conclusão a que havia chegado, apenas que era melhor eu parar de pensar naquilo e fazer o que eu precisava fazer antes de ir para casa cortar minhas unhas. Comprar a máscara para o meu rosto. Sim, faria melhor para mim.

  No final das contas, eu já havia concluído que meus sentimentos pelo Darien não passavam de mais uma trapalhada da minha cabeça. Eu não era das mais brilhantes, então, um sonho fora capaz de dar um nó até no que eu sentia, misturando meu encantamento por Tuxedo Mask com minha recém-descoberta admiração por sua identidade secreta, Darien Chiba. Que tonta que fui... Não mais: Darien era apenas um conhecido, que se transformava em Tuxedo Mask e me salvava quando necessário.

  E o namorado da Rei. Não importava o que Rei sentisse por ele ou por outro, Darien era seu namorado. Um título oficial. E o melhor para mim era comprar logo minha máscara em vez de querer atrapalhar os planos da minha amiga. Podíamos nos dar mal, mas Rei ainda era querida demais para mim. O melhor seria não intervir... Certo?

  Bem, eu pensaria mais tarde. Olhei para a cesta no lado de fora de uma farmácia e passei a mão, contemplando todas as essências das máscaras para o rosto.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Darien-

  Havia acabado de sair da faculdade e entrei em uma rua comercial para ver as promoções. Nem podia acreditar que dezembro já estava no fim e que as lojas já vendiam sacolas surpresa. Contemplei uma de dez mil ienes. Eu nunca fora de comprar essas coisas e nem conhecia que loja era aquela, mas minha vida andava mesmo de cabeça para baixo já fazia um tempo. O inverno naquele ano parecia haver começado junto com o outono então não faria mal comprar uns casacos extras ou o que fosse que viesse naquelas sacolas.

  Foi quando decidi entrar na loja cujo estilo de roupa mais parecia combinar com o meu que eu percebi um par de mechas voando e passando por mim.

  Serena parara na frente de uma farmácia revirava um cesto de produtos. Quando me aproximei, percebi que se tratava de máscaras para o rosto, e o hábito falou mais alto:

- Acho que isso não dá mais jeito, não. Depois não vá reclamar com o vendedor. – Ri em seguida, ao mesmo tempo em que me arrependia da implicância. Algo me dizia que o que antes não representava nada, agora aquilo era passar algum limite imaginário.

  Bem, o olhar que Serena lançou para mim logo em seguida também me disse a mesma coisa, que não era meu lugar lhe dizer qualquer coisa.

- O que faz aqui? – perguntou, enquanto segurava o pacote da máscara nas mãos, como se eu estivesse ameaçando tomá-lo.
- Isto ainda é uma rua pública, - apontei para a rua comercial onde estávamos.
- Você devia era estar com a sua namorada.
- Não precisamos ficar juntos a cada momento... – Passei a mão pelas máscaras distraído, lendo a essência de cada uma. – Aliás, faz tempo que não nos vemos assim, né?
- A gente se viu anteontem. Quando você estava com a Rei. Aliás, andamos nos vendo bem mais que antes, mas claro que você deve estar tão cego de amor que nem percebeu.
- Eu quis dizer ao acaso, andando pela rua. Antes parecia que a cada momento que eu virasse a esquina, um sapato me acertaria a cabeça. – Ri-me com a lembrança do evento. – Até na biblioteca já nos vimos, né? Um dos lugares que eu sempre imaginei serem seguros contra Cabecinha de Vento.
- Não tem graça alguma. – Ela me virou as costas e caminhou para o caixa.

  Não importava como eu visse, nossa relação estava muito estranha. Eu usara todo meu padrão de comportamento com ela e cada palavra saíra desajeitada e até por vezes indesejada. Em vez de Serena sair gritando ofensas para mim, ela só me dera as costas.

  O que mudara? Teria sido meu relacionamento com a Rei?

  Avistei Serena saindo da farmácia pela outra porta. Era clara sua tentativa de me evitar, mas eu não conseguia não ir atrás dela.

- Está brava comigo?
- Quem não estaria? Você me ofendeu há pouco.
- Desculpa.

  Ela me olhou com uma expressão assustada. Ei, eu dava a entender que era tão orgulhoso que um pedido de desculpas causaria aquilo?

- Apenas cuide bem da Rei, - disse ela de repente. – Ou vai perdê-la.

  Ergui minhas sobrancelhas:

- O que a Rei tem a ver com você estar brava comigo? Eu não fiz nada de errado.
- Pois então abra o olho. Esse romance de vocês anda frio demais, se quiser minha opinião. Desde quando um cara comprometido vai com a amiga da namorada sozinho a um café?

  Bingo. Não que eu pudesse dar à Serena o prazer de mostrar como ela estava certa.

- Você, sendo a amiga em questão, sabe bem que não houve qualquer intenção maliciosa, - respondi no lugar de qualquer outra coisa.
- Você que pensa, - ouvi-a dizer para dentro.

  Mas poderia ter sido qualquer outra coisa. Bem, deve ter sido outra coisa.

- O que disse? – perguntei curioso.

  Minha audição estava me pregando mais uma peça, como naquele dia em que fora a um depósito achando que receberia alguma declaração de amor.

  Percebi Serena se debater um pouco antes de me dar uma resposta:

- Hoje, vi a Rei com o Nicolas.
- Nicolas? Quem é? – O que ela queria dizer? E como eu deveria reagir quando alguém me diz tal coisa de minha namorada?
- Não acredito que não o conhece! Ele estava no outro dia com a Rei, no templo. Nicolas trabalha lá.

  Lembrei-me do rapaz que auxiliava o avô de Rei nas tarefas. Então algumas coisas fizeram sentido.

- Então, Nicolas e Rei estão juntos? – perguntei distraído.
- Não acredito que é assim que você me vê. – E me jogou algo no rosto antes de sair como antigamente ela sairia logo no início de nossas topadas pelas esquinas.

  Olhei para o chão e peguei o que me atingira. A tal máscara que ela havia comprado. Não era para significar nada, mas não pude deixar de perceber que entre mais de trinta, Serena havia escolhido a de essência de rosas.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Serena-

  Naquele dia, corri tanto de Darien que custei a me reencontrar para poder ir para minha casa.

  No dia seguinte, decidi nem ir à escola. Em compensação, estava com uma febre tão forte que na verdade fora minha mãe que me pedira para ficar em casa.

  O que havia comigo? Quando eu estava me recompondo, bastara um simples encontro pela rua para me jogar de volta àquele estado? E a forma como falara sobre a Rei era imperdoável.

  Deitada na minha cama, olhei para o teto por um longo período. Minha mãe me trouxera o almoço e eu o engoli em segundos, estava faminta. Não queria admitir para mim mesma, mas por mais estranhas que fossem minhas razoas, a verdade era que eu talvez gostasse um pouco do Darien. Somente isso perdoaria a forma como impliquei que Rei o estivesse traindo. Puros ciúmes. Vontade de vê-los terminados.

  Não que alguém como Darien algum dia fosse me considerar. Mesmo a Rei parecia uma garota muito abaixo do que deveria ser o padrão dele, imagine eu. Só uma boba como eu para literalmente sonhar que era possível ter algo com Darien. O problema estava longe de ser o fato de ele ter namorada...

  No momento em que pensava isso, ouvi meu comunicador tocar. Olhei para o relógio na minha mesa de cabeceira e já passavam das quatro; eu tinha me esquecido de alguma reunião após a aula? Aí lembrei que nem ficara até o final da última para saber quando seria a próxima.

  Vagarosamente, estiquei o braço até o aparelho e o abri para ser quase cegada pela luminosidade da tela, onde o rosto de Ami olhava para mim:

- Serena, há um monstro atacando o templo da Rei, precisamos que venha logo! – disse, antes de desligar.

  Eu mal tivera tempo de responder que estava doente. Mas, pensando bem, a febre fora apenas de manhã. E era o templo da Rei que o lugar atacado agora. E se o vovô se machucasse? Ou até o Nicolas? Não me perdoaria ficar apenas na cama deitada sem fazer nada para proteger essas pessoas tão queridas da Rei; principalmente quando eu já fizera tanto mal a ela no dia anterior.

  Jogando minha mão no ar, gritei as palavras que me transformariam em Sailor Moon, antes de seguir para o templo Hikawa.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Quando cheguei ao templo, contemplei a cena antes de me apresentar. Sailor Mercury e Sailor Jupiter estavam como escudos humanos, na frente de uma Rei sem transformação e um Nicolas bastante assustados. Logo ali, um monstro maior que o normal gritava, soltando um golpe atrás do outro e um general do Negaversus observava tudo de camarote, enquanto sentado em cima de uma das construções do templo, onde os papéis com as sortes eram vendidos.

  Pulei bem no meio entre minhas amigas e os monstros e lancei minha tiara lunar. Para minha surpresa, ele a fez em vários pedaços.

- Sailor Moon! – gritou Rei.
- Está tudo bem! – menti, sem saber se quando eu me transformasse de novo, se a tiara voltaria tal como os rasgados das roupas sempre sumiam no dia seguinte.

  Saquei meu cetro, mas sabia que o monstro ainda estava forte demais para a cura lunar, por isso, apenas pulei nas suas costas e bati o objeto em sua cabeça tantas vezes pude até ser arremessada para longe, perto da casinha onde o general se encontrava.

  Olhei para a cara de satisfação que ele fazia, sem nem desviar o olhar para mim, somente olhando como aquele monstro enorme machucava minhas amigas, e ameaçava ferir Rei e Nicolas.

Foi quando um brilho me cegou a vista. O sol havia refletido em algum objeto do lado oposto de onde eu estava. Atrás de Rei. Um segundo monstro surgira ali.

  Pulei com toda a minha força, agarrando-o e jogando-o no chão. Com o movimento, seu corpo feito de algum material parecido com vidro quebrou numa parte e cortou ambas as minhas mãos.

- Tudo bem? – perguntou Rei, claramente frustrada por não poder se transformar naquela situação.
- Eles estão querendo te levar de novo, - disse, sacando meu cetro.

  Fora tão rápida em derrubar o monstro que parecia ter feito um bom estrago. Por isso, conseguira sumir com ele. Do outro lado da arena, o estrago acontecera para o nosso lado. Sailor Mercury havia caído em um lugar próximo ao meu, enquanto Sailor Jupiter tentava mais uma vez aplicar seu choque do trovão, apenas para falhar como antes.

  O monstro restante urrou e levantou os braços. Suas garras pareceram crescer e ele se jogou em cima de Sailor Jupiter, pondo as mãos ao redor de seu pescoço, com as unhas começando a furá-la.

  Tanto Mercury como eu tentamos aplicar os golpes que podíamos, mas não fora o bastante. As unhas entravam mais e, apesar da distração que nossos golpes causaram, Tuxedo Mask não surgira para nos salvar como eu gritava dentro de mim que fizesse. Quem salvou Jupiter da morte fora uma barra enorme de madeira acertada nas costas do monstro.

  Nicolas agora tinha sobre si o olhar do monstro que retirara as garras de Jupiter e as mostrava ao homem que o atacara.

  Jupiter não tinha realmente se recuperado, mas seguiu a mesma deixa que Mercury e eu, cercando para que o monstro não se vingasse de Nicolas pelo ataque. Olhei para ambas. Estávamos cansadas e eu sequer tinha minha tiara, como iríamos enfraquecê-lo mais?

  Num último esforço, Jupiter e Mercury combinaram seus golpes, mas foram repelidas com facilidade pela criatura, que avançou agora para cima de mim, provavelmente percebendo que eu não tinha mais como atacar. Ele era tão grande... E meu corpo não era tão forte como o de Jupiter; no momento em que suas unhas chegassem ao meu pescoço já seria tarde demais. Eu precisava pular dali, mas a energia que gastara antes se fora, deixando apenas o cansaço. A febre devia ter voltado também.

  Ouvi as duas darem novos golpes, a cada hora mais fracos. Corri com o que me restava de força, mas bati de frente com uma das placas do templo, a qual ignorara no meio do desespero. Droga, Serena, aquela não era hora de se atrapalhar. Minha cabeça doía com o impacto e eu me sentia ainda mais desnorteada. Meus olhos estavam irritados de eu querer chorar sem conseguir lágrimas. Somente virei para trás, olhando o monstro. No fundo, Rei já havia retirado sua caneta do bolso quando... De repente tudo ficara bem.

  Um vento frio batia no meu rosto e um cheiro agradável preenchia minhas narinas.

- Tuxedo Mask, - murmurei, aninhando-me naquela fortaleza. Não queria mais sair dali, contanto que continuássemos assim, tudo estava bem.

  Mas ele me pôs no chão, longe de onde o monstro ficara, atingido por uma chuva de rosas.

- É a sua vez, Sailor Moon. – Ele ajeitou o chapéu e capa. – Conto contigo, - disse antes de desaparecer.

  Acordando do torpor, puxei meu cetro lunar e o monstro foi transformado em pó. Suspirei deixando-me cair no chão, uma onda de alívio se misturava à febre.

  E o som de palmas me fez lembrar de mais um detalhe. O general se pusera de pé na pequena casinha do templo e continuava a nos aplaudir com um sorriso diferente do que se esperava do lado perdedor.

- Parabéns, guerreiras. Vocês venceram. Mas eu também. – E gargalhou. – Acabo de juntar as peças para uma informação interessantíssima. – Por fim, apontou para Rei, que se pôs em posição de defesa imediatamente. – Aliás, eu contei foi a peça que parecia estar faltando aqui. Foi um belo dia, muito bom mesmo. – E ele sumiu no ar com aquelas palavras.

  O general havia descoberto a identidade da Rei.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Eu não estava me sentindo bem, mas decidi ir embora da casa da Rei com as meninas. Assim que a luta terminara, Nicolas Nicolas abraçara Rei bem forte a ponto de me deixar ruborizada com a cena e, agora, parecia próximo demais dela. Eu me sentia estranha por ficar perto deles.

  Ao mesmo tempo, ficava me lembrando da resposta de Darien quando o alertara sobre aqueles dois. Talvez, ele confiasse o bastante na Rei para não acreditar nem no que a amiga dela dissesse.

  Não que a Rei o estivesse traindo, ela nunca o faria, até eu sabia disso. Era só que... Rei definitivamente gostava do Nicolas. Após aquela batalha, os sentimentos dela ficaram claros até para Lita, já com o pescoço enfaixado por Ami, que veio discutindo isso, até o ponto em que as três seguiríamos por caminhos diferentes para nossas casas.

  Após nos separarmos, acenei para Ami e para Lita e fingi prosseguir. Mas quando notei que as duas já haviam sumido, encostei-me ao muro a meu lado. Minha casa estava longe demais para continuar andando. Precisava recuperar o ar. Levei as costas das minhas mãos, também enfaixadas, até o rosto. Estava quente. E as roupas que usava nem eram das mais grossas, já que eu só estava em casa quando fora chamada e me transformara; por isso, sentia frio não apenas da febre.

  E agora? Talvez devesse chamar alguém pelo comunicador. Era melhor andar conversando, assim, eu não notava como estava me sentindo mal. Pus a mão no bolso. Vazio. Perfeito, deixara o comunicador no meu quarto. Só faltava minha mãe achá-lo.

  Forcei-me a andar mais. Estava tudo bem. Eu estava lutando com um monstro gigante até havia pouco, andar para casa tinha que ser mais fácil. E se eu me transformasse mais um pouco? Podia até conferir se minha tiara voltara.

  Mas não consegui virar a Sailor Moon. Meu corpo não teve energias.

- Serena? – Como se fosse uma ilusão, Darien apareceu na minha frente. E não hesitou em pressionar a palma da mão contra minha testa: - Está queimando em febre!

  Darien veio até meu lado e enlaçou o braço no meu, segurando forte o meu pulso. Ele estava tão quente...

- De onde você veio? – perguntei, apenas seguindo os comandos dele sem conseguir pensar direito.
- Estava te esperando logo à frente. Não consegui te ver o dia todo e estava com o pacote que você... deixou cair.

  A máscara de rosto que jogara nele da última vez.

  Darien fez força para frente, seu braço roçando contra o meu corpo. Apesar de toda a situação, era daquilo que eu estava mais consciente?

- Não precisava disso tudo, era só entregar à Rei.
- Eu preferia fazê-lo pessoalmente. E foi bom, né? – Ele me sorriu, continuando a me empurrar em frente. – Agora descanse a cabeça no meu braço, que logo estaremos em algum lugar quente para você se sentar.

  Como não fiz nada, ele usou a mão livre para deitar minha cabeça levemente. Eu estava cansada, então aceitara o movimento por alguns segundos. Após isso, como se um por cento de minhas energias houvessem sido recarregadas, pulei, afastando-me de tudo. Restara apenas a mão presa ao meu pulso.

- Está tudo bem? – Ele pareceu espantado.
- Não está.
- Eu machuquei seu pescoço? Talvez seja melhor chamarmos um táxi para sua casa, então.
- Não é isso. – Puxei meu braço até ele soltar e levei os dedos das duas mãos para os lados de minha cabeça. – Eu vim te culpando de alguma forma ultimamente, mas a verdade é que o problema é meu. E eu não aguento mais essas suas gentilezas.

  A expressão que ele me mostrava ficava cada vez mais difícil de ler. Mas, considerando tudo o que saía da minha boca, aquilo devia ser algum nível já acima da surpresa.

  Inspirei fundo:

- Eu me apaixonei por você. Você é o namorado da minha amiga. E, mesmo se não fosse por isso, eu nem teria chances. Por favor, me deixa em paz. E vá embora, porque eu não conseguiria correr daqui.
- Serena, o que quer dizer com isso?
- Na verdade, eu já disse com isso tudo o que queria dizer... – Senti minha voz falhar.
- Então, nós precisamos conversar, não é?
- Não, você precisa sumir, e eu ir para casa. Não há nada que nós dois juntos possamos fazer. – Olhei para o meu pé, que não queria sair dali, daquele momento horrível.
- Eu realmente acho que precisamos sentar e conversar com calma. Mas tem razão, não é hora para isso.- E fez silêncio por um longo tempo.

  Minha nuca doía de olhar para baixo. Então, ouvi-o se afastar. Mas fora apenas o momento de eu suspirar. Logo, Darien voltou e me puxou até que eu caísse em algum lugar macio.

- Por favor, cuide dela, - dizia ele ao motorista do táxi para dentro do qual me guiava.

  E eu dormi assim que ouvira a porta fechar, sem que Darien entrasse para se sentar ao meu lado.

  Após tudo aquilo, ao menos, eu sentia meu coração leve.

Continuará...

Anita, 09/01/2012

Notas da Autora:

Este foi o penúltimo capítulo, agora é esperar o último para ver no que deu essa confusão toda!

Aproveitando o ânimo que esta história me deu, estou trabalhando em uma nova história de Sailor Moon, uma realidade alternativa no estilo de Sem Voz Peço, por Seu Calor. Pela primeira vez irei usar o Seiya em uma fic de Sailor Moon, mas o foco ainda será o anime clássico, acho que o Seiya na verdade é o único personagem por enquanto que saiu dessa linha e não, não será um Serena/Seiya, eu não conseguiria pôr o Darien pra escanteio :( Mas bem, toquei no assunto porque estou procurando um par pro Neflite entre as meninas e fiquei em dúvida entre Mina, Ami e Rei. Li que a intenção da Naoko era de pô-lo com a Lita, mas essa meio que tá fora do páreo no meu roteiro, infelizmente. Por isso, pergunto a vocês quem vocês acham que mais combinaria com o Neflite, rs.

Mais um detalhe é que estou considerando adotar os nomes originais. O que já escrevi tá tudo com os nomes da dublagem porque é sério... não consigo pensar em Usagi/Mamoru, se penso assim lembro do live action, do manga, mas não dos meus personagens, entendem? Mas desde que comecei esta fic aqui publicada venho reconsiderando essa posição, querendo fazer um esforço mais. Alguém tem alguma opinião? rs.

Por fim, terminei a reformatação das minhas fics no Olho Azul e agora comecei a preparar a parte de hospedagem de fics de outros autores. Quem tiver interessado, mandem-me um e-mail para Anita_fiction@yahoo.com ou comentem no Olho Azul. Pretendo aceitar de tudo, incluindo histórias originais. É um arquivo pequeno, com quase nenhuma visita, mas né, isso pode mudar aos poucos. Não é nenhuma rebelião ao ffnet, mas apenas uma vontade de reviver um pouco o Olho Azul.

Até o último capítulo, já tô com saudades. :(

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